Mônica Maria

Wednesday, November 07, 2007

Dicionário dos jovens

Para iniciar esta proposta de trabalho, nada como o poema "Aula de português" de Carlos Drummond de Andrade:

Dicionário dos jovens



Uma atividade interessante para seus alunos é fazer o "dicionário dos jovens". Em primeiro lugar, porque eles vão sentir que sua linguagem não é discriminada. Depois, porque, em trabalhos de construção de textos (frase ou conjunto de frases usadas num contexto discursivo real), pode-se discutir a adequação dos termos à situação de cada enunciado. Ao mesmo tempo em que explica sua linguagem, o jovem está ampliando seu vocabulário, com o uso do dicionário, assim como refletindo sobre a linguagem. Sugestão de procedimento para a criação desse dicionário:


1. Converse com os alunos sobre algumas palavras bem típicas dos jovens que eles acabaram de usar e também sobre outras que usam da mesma maneira que os outros, adultos ou não: por exemplo, os verbos mais freqüentes na língua, os parentescos, partes do corpo. É o chamado "vocabulário fundamental". Eles vão perceber que a maioria das palavras usadas por eles são empregadas pelos adultos.



2. Mostre interesse em conhecer o vocabulário típico deles, e proponha um trabalho em grupos, no qual cada um vai apresentar o termo com seu(s) significado(s). Como freqüentemente eles vão explicar um termo "deles" com outro também deles, é importante recorrer ao dicionário.


3. Encontrados os sinônimos, os grupos vão expor seu dicionário, indicando em que situações de comunicação o uso de cada termo (do grupo ou do dicionário) estaria adequado.


4. Conforme a turma, podem ser montados pequenos jogos dramáticos (diálogos) em que adultos ou crianças procederam de modo engraçado, porque não entenderam o significado de determinado termo. Ex: "mina", "ficar", etc.



5. Acostume-se a avaliar com seus alunos as experiências ocorridas nas aulas, e não deixe de apresentar-lhes também sua opinião sobre as atividades realizadas por eles.
Objetivos da atividade
- Valorizar o dialeto dos jovens.
- Saber adequar os termos à situação de cada enunciado.
- Reconhecer que a língua apresenta variações, conforme os grupos que a usam.
Relação da atividade com a realidade lingüística dos alunos
O foco principal desta atividade é o desenvolvimento, nos alunos, de uma consciência das diversas variações e o uso de cada uma delas, nas várias situações de comunicação vividas por eles.
Desta forma, os direitos lingüísticos dos alunos serão respeitados, além de se preservar sua auto-estima lingüística, partindo-se do fato de que a principal característica das línguas humanas é sua heterogeneidade.
Análise crítica da atividade
Deve-se ressaltar que o estudo da variação não pode se limitar ao sotaque e ao vocabulário; é de fundamental importância investigar a variação morfossintática que nos revela a situação real do português brasileiro contemporâneo.
Verifica-se que há uma noção clara de que a variação lingüística ocorre em todas as comunidades de fala, entretanto não se menciona que ela ocorre inclusive na língua falada e escrita pelos brasileiros chamados "cultos" que não corresponde ao que está previsto na gramática normativa.
Sendo assim, é necessário desconstruir a idéia de homogeneidade da norma-padrão, tendo em vista a heterogeneidade da língua realmente usada. Para isso, a escola deve dar espaço ao maior número possível de manifestações lingüísticas, concretizadas no maior número possível de gêneros textuais e de variedades de língua.
Sugestões
Considerando que é nosso dever fazer um ensino crítico da norma-padrão, desde que associado à diversidade lingüística dos alunos, para assim aumentar a bagagem de conhecimento dos mesmos, sem desvalorizar o que eles já sabem, as regras gramaticais que já dominam e que respondem às suas necessidades de comunicação, expressão e interação.
Torna-se necessário apresentar aos nossos alunos todas as opções que a língua oferece, explicar o funcionamento dessas regras e os processos gramaticais que ocorrem em cada uma. Além, é claro, de explicar a necessidade de saber adequar o seu modo de falar aos diversos contextos sociais nos quais estiver inserido.
Referências
Imagens:
www2.ii.ua.pt/uimc/divulga/dictionred.jpg
mulher50a60.weblog.com.pt/arquivo/palavras4.jpg
bodas.files.wordpress.com/2007/01/palavras.jpg
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
Atividade proposta:
Programa Gestão da Aprendizagem Escolar - GESTAR II. Língua Portuguesa, Caderno de Teoria e Prática 1. Brasília, 2006.